Resumo do livro Vida e Cultura Açoriana em Santa Catarina (Raimuindo C. Caruso e Mariléia M. Leal Caruso)

Trata-se de 10 entrevistas feitas com o pesquisador Franklin Cascaes em 1981, documento sobre a cultura açoriana e popular do litoral de Santa Catarina.

Segundo os autores “Sem precisar nunca prestar contas a ninguém, o mestre Cascaes soube, intuitivamente, fazer uma coisa que é essencial para quem um dia vai escrever: ouvir, ver, recordar, selecionar, anotar.”

Cascaes também percebeu, sabiamente, que escrever sobre o complexo e às vezes inverossímil mundo da cultura popular é, antes de mais nada, resgatar a sua linguagem.

Foi essa, talvez, sua sensibilidade mais flagrante: fixou a linguagem, as expressões, os “erros”, as modificações, as imagens, as pausas e talvez até as hesitações de quem vivia do mar e comunicava o mar, de quem trabalhava a terra e nela ia incorporando sua visões e sua sabedoria.

Às páginas 11 até 19 Mariléia M. Leal Caruso, apresenta-nos, a história da emigração e colonização catarinense:

“Quando os primeiros casais de imigrantes açorianos chegaram em janeiro de 1748, tanto o atual território de Santa Catarina como o sul do Brasil eram um deserto vazio e despovoado. Não tinham cidades ou agricultura e tampouco minas de ouro. No litoral contavam-se apenas três vilas insignificantes de aventureiros e de náufragos com uma poucas dezenas de casas: Laguna do Sul, Desterro na ilha de Santa Catarina, e São Francisco do Sul ao norte. É o interior do atual estado, que se estendia para além dos campos de Lages, era habitado exclusivamente pelos indígenas “kaigangues” e “xoklengs”.

Para compreendermos a nossa história é necessário conhecer a história, geografia e paisagem dos Açores, uma vez que nossa descendência é açoriana: “O arquipélago dos Açores, formado por nove ilhas vulcânicas e com áreas que variam entre 759 e 16km2 - a ilha de Santa Catarina tem 435 km2 - está localizado em pleno oceano Atlântico e a 1.500km de Portugal. Foi progressivamente descoberto pelos navegantes portugueses a partir de 1427, quando exploravam o litoral da África à procura de um caminho para as Índias. (…)

Quando foram descobertas (as ilhas açoriana) estavam desabitadas, vivendo ali apenas algumas espécies de animais e aves marinhas, entre elas uma espécie de gavião do mar denominado “açor”, que deu o nome a todo arquipélago.
(…)
Uma pergunta importante relativa a essa imigração é “por que vieram os açorianos”. Alguns historiadores apontam como causa da vinda dos casais a superpopulação nas ilhas de origem. Em 1748 viviam nos Açores aproximadamente 150mil pessoas. Como partiram seis mil, ficaram 144, o que não muda em quase nada o problema pois ainda assim os Açores continuariam “superpovoados”. Então, já que a partida não foi obrigatória, por que é que eles emigraram?”

Em primeiro lugar por causa do sistema social vigente: o feudalismo fez com que os açorianos emigrassem para Santa Catarina em busca de terra e de liberdade. E uma outra causa está relacionada “a política portuguesa para o sul do continente americano, quando Lisboa determina a fundação, em 1680, da Colônia do Santíssimo Sacramento, em terras do atual Uruguai. (…) Essa intromissão portuguesa provocou uma série de guerras e conflitos com tropas espanholas, obrigando Portugal a organizar uma retaguarda de apoio às suas forças na Ilha de Santa Catarina.
(…)
Na primeira parte, Franklin Cascaes discorre sobre seu método de trabalho. Informa que começou a estudar por saudades de um tempo que estava terminando. “Comecei a fazer este trabalho em 1946, quando tinha 38 anos.. Nessa época eu era professor na Escola Técnica: de desenho, escultura, modelagem, trabalhos manuais. Moralmente, no sentido em que deveria iniciar o projeto mas para levá-lo até o fim apesar de todos os problemas que já imaginava encontrar. E já comecei com dificuldades, porque era professor. (…) Sofri muito como professor, principalmente depois de aposentado, depois de 36 anos de trabalho. (…)
Fiz o trabalho sempre às minhas expensas, nunca ninguém me auxiliou. (…)

” Quando eu comecei a trabalhar com a cultura açoriana, em 1946, já estavam começando a desmontar a nossa cidade de Nossa Senhora do Desterro. Começaram a derrubar diversos prédios antigos em toda a cidade. E depois construíram essas favelas de ricos, os prédios de apartamentos. Mas, a cidade era muito bonitinha, muito bonita. E eu fui encontrar nas ilhas dos Açores parece que a cópia desta, só que as de lá ainda se conservam.”

“(…) Eu não fiz quadros para expor ou vender, não. Fiz o trabalho sem nenhuma pretensão.(…)

Na primeira entrevista, Franklin Cascaes fala sobre a colonização da ilha. Discorre sobre a raça; o mar; o peixe e a farinha; os hábitos do povo em se acordar às quatro da manhã; a feitura do óleo de peixe; a maneira como se contraem o matrimônio: geralmente a menina tinha doze anos e cara quarenta; o poder da igreja; o clima e seus efeitos sobre as mulheres.

Na segunda entrevista, Franklin Cascaes nos conta do perigo que se tornou, para Portugal, as indústrias caseiras daqui.

Na terceira entrevista, o historiador conta sobre as dificuldades dos moradores da nossa ilha, das dificuldades que tiveram que enfrentar para vencer as agruras do mar, que muitas vezes dificultava-lhes o alimento.

Quando as crianças adoeciam, atribuíam seu mal às bruxas e faziam simpatias com ferraduras, alho, etc. Cascaes conta-nos também acerca dos engenhos de mandioca, de seu plantio, colheita, raspagem e das épocas de farinhada, quando a comunidade se reunia e tudo podia acontecer, desde namoros até histórias fantásticas.

Na quarta entrevista, o pesquisador relata sobre as árvores típicas da ilha como o garapuvu, árvore majestosa, e suas flores amarelo-ouro; sobre a pesca da baleia que era feita mais por escravos do que por homens brancos; pesca da tainha e as dificuldades pelas quais o pescador passava, pois muitas vezes o mar era padastro; e, quando a pesca era boa, ainda se sujeitavam aos atravessadores.

Na quinta entrevista, Franklin Cascaes conta como chegou ao modelo final de suas esculturas do colono açoriano.

Na sexta entrevista, Franklin Cascaes desvenda os mistérios sobre bruxarias e fantasmas, crendices populares que tipificaram o povo da Ilha de Nossa Senhora do Desterro.

Na sétima entrevista, o pesquisador fala sobre a educação e a hospitalidade nas outras épocas passadas.

“Quando se visitavam, as famílias ficavam vários dias nas casas dos outros. (…) As casas eram feitas de uma forma que a frente, de duas a três ou quatro janelas, não tinha divisão. Era um grande salão com um corredor e as peças laterais e no fundo a cozinha e às vezes uma varanda. As salas eram próprias para receber danças de boi-de-mamão, danças de pau-de-fita, ternos e bailes. (…)

Na oitava entrevista, mestre Cascaes apresenta fotos de Açores e os nomes das nove ilhas açorianas, que são: São Miguel, Terceira, Graciosa, Santa Maria, Pico, São Jorge, Flores, Corvo e Faial.

Na nona entrevista, Cascaes fala sobre a medicina popular, ou seja, a necessidade do povo, levou-o a inventar seus remédios.

Na décima entrevista, Franklin Cascaes fala do costume do “Pão-por-Deus” que “nasceu do seguinte problema: no passado eram os pais que namoravam o homem para as filhas”.

Fala também sobre a Festa do Divino, que para Cascaes era a mais bela e popular, devido às suas origens portuguesas.